Confira o artigo de Maria Helena Mauad
21/02/2013
De 20 anos para cá, praticamente zeramos o número de crianças fora da escola no primeiro ciclo do ensino fundamental. Também multiplicamos a quantidade de brasileiros que ostentam um diploma de ensino superior. Pena que essas boas notícias não se traduzam em melhores performances acadêmicas, ganho efetivo de cultura, ampliação do conhecimento ou diminuição da criminalidade.
Mudar esse estado de coisas é urgente. E essa mudança não se opera com a aplicação de métodos pedagógicos escolhidos mais por questões ideológicas do que por sua real eficácia, nem com uma legislação que foi pautada pela utopia e não pelo bom senso e o pragmatismo. É preciso encontrar meios de estimular mestres a ensinarem mais e melhor, e de garantir que este trabalho renderá frutos junto àqueles que estão aprendendo.
É hora, também, de rever o Estatuto da Criança e do Adolescente, que impõe uma série de barreiras ao ingresso do menor de 16 anos no mercado de trabalho e no ensino profissionalizante. Em um país cuja rede pública de ensino não oferece atividades em tempo integral e no qual 37,3% dos lares são chefiados por mulheres (dados do último Censo IBGE), é óbvio que um contingente considerável de crianças permanece sem um adulto responsável olhando por elas durante algumas horas todos os dias. Que tal deixar as crianças mais tempo na escola?
Também não me parece inadequado que se aprenda uma profissão a partir dos 14 anos de idade. Ao contrário: o acesso ao ensino profissionalizante pode fazer a diferença entre abraçar uma carreira digna e ser cooptado para o comércio das drogas. Trabalhar não é coisa feia ou ruim. Ao contrário: é o que dignifica, enobrece, faz crescer e prosperar. Claro que não cogito colocar uma pessoa em tenra idade operando máquinas ou mexendo com produtos químicos. Mas não há contraindicação alguma aos ofícios de auxiliar de escritório ou digitador.
O Brasil já avançou muito. Pena que, em muitos aspectos, continue sendo presa da hipocrisia e dos discursos demagógicos.
Maria Helena Mauad é presidente da Associação Paulista Projeto Ampliar (www.projetoampliar.org.br) e diretora do Secovi-SP (Sindicato da Habitação).