Educar para salvar

O psiquiatra e escritor Içami Tiba resumiu: temos muito mais condições de salvar o Brasil pela educação do que pela força política ou policial.

A história dos países desenvolvidos comprova. Em todos eles a prioridade à educação é denominador comum. Na Coreia do Sul, por exemplo, a renda per capita subiu de 30% a 40% quando a escolaridade atingiu 94% da população.

Assim, é difícil entender as razões que nos afastam desse caminho. Ocupamos um dos piores lugares no ranking mundial de educação.

E, pelo segundo ano consecutivo, ficamos estagnados na 79ª posição do ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas, que mede o bem-estar da população considerando indicadores de saúde, escolaridade e renda. Atrás da Venezuela!

Sabemos que o atual nível de desemprego se deve às crises política e econômica. Mesmo com a posse do novo governo, e com a esperada pacificação do ambiente nacional e retomada econômica, a falta de escolaridade continuará excluindo milhões do mercado de trabalho.

Até porque os meios de trabalhar passam por profunda transformação. A inteligência artificial veio para ficar. Robôs substituem funções antes humanas. Portanto, o emprego estará cada vez mais na competência de interpretar os fatos; na criatividade para atender e, principalmente, antecipar, as necessidades do mundo.

De acordo com o IBGE, existem 27,6 milhões de pessoas desempregadas, subocupadas ou desalentadas no Brasil (dados do segundo trimestre de 2018). Os jovens são o que mais sofrem: na faixa entre 18 e 24 anos, o desemprego é mais que o dobro da taxa da população em geral. Pior: milhões deles estão fora da escola, distantes da necessária capacitação.

Temos aí um problema que vai muito além da simples contratação de jovens. Até porque, por força de lei, aqueles com idade entre 14 e 17 anos (zona crítica de formação pessoal) só poderem trabalhar sob condições específicas – menores aprendizes, por exemplo -, que são impostos às empresas (cotas), as quais sofrem em virtude de boa parte dessa mão de obra não conseguir redigir um texto ou fazer contas.

De outro lado, a oferta de cursos técnicos é inferior à demanda. E a falta de educação de base impede que muitos jovens tenham condições de acompanhá-los.Qual a alternativa, sabendo-se que o homem não incluído no mercado trabalho tende a atividades ilegais, em especial se for jovem?

Enquanto não houver um choque na educação, resta a atuação de ONGs como o Ampliar, que profissionaliza e capacita jovens em situação de vulnerabilidade social. Em 28 anos de operação, o braço social do Secovi-SP formou mais de 70 mil alunos.

É um número expressivo. Todavia, precisamos fazer mais, o que só será possível com o engajamento de mais pessoas nessa missão, dispostas a fazer uma contribuição mensal a partir de R$ 25.

O futuro é resultado do que fizermos agora. E certamente ele será sombrio sem mais educação. Inclusive no tocante à Previdência. Com o envelhecimento dos brasileiros, a população economicamente ativa será formada por parcela cada vez menor de jovens. Se eles não tiverem preparo para trabalhar, melhor nem imaginar o que será.

*Maria Helena Mauad é presidente emérita do Ampliar

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